O meu livro A Magia de Luna na Cidade das Flores contém vários contos protagonizados por personagens animais. Hoje, quero compartilhar convosco os bastidores de um deles: Foxy.
Vivo na cidade de Londres, onde, surpreendente, é cada vez mais comum ver raposas a caminhar pelas ruas, aproximando-se dos humanos em busca de alimento. Já escrevi sobre isso num artigo deste blog intitulado: As Raposas Invadiram as cidades. E agora? Infelizmente, nem sempre há finais felizes. Hoje mesmo, presenciei uma cena triste: uma raposa atropelada no meio de uma estrada movimentada, tentando atravessar para uma área de mata próxima à zona residencial. Ver os carros passando sem parar, esmagando ainda mais o corpo do animal, partiu-me o coração. Essa situação repete-se com frequência, pois os humanos destruíram os habitats naturais das raposas, obrigando-as a viver mais perto das nossas cidades.
Foi essa realidade que me inspirou a escrever o conto Foxy, na esperança de chamar a atenção para os perigos que essas criaturas enfrentam.
Durante vários anos, uma raposa habituou-se a vir ao meu jardim todas as noites para se alimentar. Demos-lhe o nome de Foxy (pode ver-se na foto acima), e foi nela que baseei, em parte, a personagem principal do conto. Um dia, após uma curta ausência, Foxy apareceu acompanhada pelos seus filhotes. Depois disso, deixou de vir, e sentimos muito a sua falta. Quem sabe se não terá sido também atropelada.
Outra fonte inspiração para o conto veio de uma notícia publicada em 18 de fevereiro de 2021 pelo jornal digital O Minho. Embora eu não tenha acesso regular a jornais portugueses impressos, costumo acompanhar notícias online, e esta chamou-me a atenção. Achei-a perfeita para complementar a narrativa que eu queria criar e entrelaçá- la com Luna, a gatinha que percorre todos os contos do livro.
Foi esta a notícia, cujo original poderão ler em:
https://ominho.pt/salva-raposa-em-tras-os-montes-e-ganha-companhia-diaria-ao-jantar/
“Salva raposa em Trás-os-Montes e ganha companhia diária ao jantar
Um habitante de uma aldeia de Bragança ganhou uma companhia para jantar depois de ter salvado uma raposa que agora o visita todos os dias em casa para comer e regressa à vida selvagem depois do repasto.
Fernando Almeida tem partilhado fotos e vídeos nas redes sociais desta inesperada relação com o animal selvagem que já lhe entra literalmente em casa, lhe come da mão e até partilha o comedouro com outros animais domésticos, como dois gatos.
Fernando vive junto à estrada na aldeia de Oleiros, perto da cidade de Bragança, e contou à Lusa que a história desta relação começou em novembro, quando ia a conduzir e viu uma raposa prostrada na estrada.
Desconfia que “deve ter levado alguma pancada de algum carro, porque não tinha ferimentos visíveis, devia estar maçada”.
Levou o animal para casa e deu-lhe de comer “durante quatro ou cinco dias, até que ficou boa, começou a andar e foi-se embora”.
“De repente, desapareceu para aí uns 15 dias”, contou, e esteve desaparecida até que, uma noite, Fernando Almeida estava a ver um filme na cozinha e levou um susto ao ver um vulto na janela onde costuma pôr comida aos gatos.
Afinal era a raposa que tinha regressado e, “a partir daí, volta todos os dias à hora de jantar e não vai embora” até Fernando lhe dar de comer.
“Parece que conhece o barulho da carrinha, quando chego, aparece ela”, enfatizou, em relação à pontualidade do animal quando Fernando chega a casa depois do dia de trabalho.
A raposa come, “está por ali e depois desaparece até ao outro dia”.
A proximidade entre ambos permite até que o animal coma da mão deste homem, que já levou uma mordidela desculpada pela voracidade com que a raposa se atira ao alimento.
Fernando contou à Lusa que passou a comprar carne propositadamente ou recolhe as chamadas aparas dos talhos para a raposa.
“Ela é maluquinha por frango”, diz.
Fernando observa também o comportamento da raposa que come no local onde lhe põe a comida, mas também apanha e “leva na boca quatro ou cinco pedaços, vai não se sabe para onde, e volta para continuar a comer”.
“Não sei se leva para guardar”, questiona-se.
Até pode ser “um raposo”, mas Fernando batizou-a de “Linda” e garante que quando lhe chama pelo nome ela responde.
E da mesma forma que aparece, desaparece para o monte até à próxima hora de jantar, pois, como vincou Fernando, “ela é selvagem, não está presa”.
Se lerem Foxy, descobrirão como combinei os elementos da realidade com a ficção para construir uma história envolvente, com humanos e animais. Mas vou parar por aqui — gostaria muito que a lessem e me fizessem saber a vossa opinião!
Obrigada!
Sobre mim
Teresa Dangerfield
Sou escritora
quando prendo as palavras para criar mantas de sentido.
e sou poeta
quando as palavras que junto me emprestam magia.